Vozes e Risos na Noite

Nesse sítio, deste parente meu, apesar de ser um lugar bonito, ele é um tanto estranho a noite na beira do rio, na floresta.  Uma vez estava eu e esse meu parente lá no sítio pescando no rio à noite. Lá, apesar de bonito, com montanhas e árvores gigantescas, tem também uma curva naquele rio, de noite quando a lua bate, fica um tanto estranho.

Mas o lugar é muito bonito. Estávamos pescando, já era uma meia-noite, estava tranquilo, a gente pescava e conversava um pouco. Ele tem uma maneira de pescar acocorado e eu de pescar em pé, na beira do rio.

Daí a pouco silenciamos, distraídos cada um com seus pensamentos, pescando. Aí, num pesqueiro à nossa direita, tinha um mato e algumas gramas de matagal alto, que separavam o nosso pesqueiro do outro à nossa direita. Começou repentinamente uma conversa, como se tivesse uma meia dúzia, mais ou menos, de homens conversando, alto e rindo.

Eu olhei para o meu parente e ele disse, só o que falta, porque o sítio dele é como se fosse um condomínio. Ele disse, invadiram e vieram pescar. Alguém invadiu, entrou escondido, esse pessoal, e vieram pescar aqui.

E aquela conversa e algumas risadas continuaram, como se fosse uma meia dúzia de homens, mais ou menos. Ficamos assim, daí eu disse, eu vou ali ver. Aquilo começou a me incomodar.

Eu peguei a lanterna e o meu facão e fui ali. Quando eu estava chegando perto dali, alguns passos só, eu percebi que bruscamente silenciou. Eu pensei, ficaram todos quietos.

Toquei a lanterna e não tinha absolutamente ninguém. Era impossível aquele monte de homens, no meio daquele mato, quando eu estava a uns 5 ou 6 passos de distância, conseguirem sair sem fazer barulho algum, sendo que só tinha um trilho para sair dali. Eu voltei, meu parente me olhou e disse, o era? Eu chacoalhei a cabeça, que não tinha ninguém.

Ele só deu um sorriso e continuou pescando. Mais algum tempo depois, começou de novo as vozes e risadas. A gente se olhou e como já não estava dando mais peixe, a gente disse, chega de pescar.

Está na hora de ir embora, vamos recolher as coisas. Em silêncio, recolhemos. E daí, tínhamos ou passar por ali onde estava de novo aquelas conversas e risadas, daqueles homens, ou então ir pelo outro lado, mas que era um morro muito alto e de noite seria algo nada agradável de se fazer.

Daí eu disse, não tem jeito, vamos ter que ir pelo trilho. Aí, o meu parente foi na frente, eu fui atrás no trilho, fomos com as lanternas, com os facões na mão e a conversa continuava. Da mesma forma, quando passamos pelo pesqueiro, quando estávamos chegando perto do pesqueiro, silenciou tudo.

Focamos as lanternas, não tinha nada, nem pegada, nem nada. Quando passamos pelo pesqueiro, começou a conversa de novo e nós seguimos quietos. De repente, silenciou.

E eu, como vinha vindo atrás, eu tinha a nítida impressão que tinha alguém me seguindo. Tinha umas escadarias de pedra que tínhamos que subir. A sensação que tinha alguém logo atrás de mim foi tanta, que eu não aguentei, puxei a minha adaga e golpei para trás.

Óbvio que não acertei ninguém, nem nada, foquei a lanterna, não tinha nada. Foi só a sensação iminente que tinha alguém bem atrás de mim. Assim que subimos aquelas escadarias e saímos daquela região, foi como se tivesse um peso passado.

Aquele lugar, apesar de bonito, de noite na beira do rio, na floresta, é um tanto estranho e assustador.

 

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

+ 21 = 23
Powered by MathCaptcha