María Sabina: A Sacerdotisa dos Cogumelos Sagrados e Seu Legado Sobrenatural
No alto da Sierra Mazateca, onde as nuvens se misturam com a névoa das lendas, uma voz ecoou por décadas, atravessando o véu entre os mundos. María Sabina não foi apenas uma curandeira—ela foi uma médium dos deuses, uma guardiã de segredos ancestrais e uma figura cuja vida desafia as fronteiras entre o material e o espiritual.
## **O Início de uma Jornada Mística**
Nascida em 1894 em Huautla de Jiménez, Oaxaca, María Sabina Magdalena García enfrentou a pobreza e a dor desde cedo. Órfã de pai ainda na infância, ela e sua irmã perambulavam pelas ruas pedindo comida. Mas o destino lhe reservava um caminho diferente.
Aos oito anos, durante uma doença grave, sua tia a levou a uma cerimônia com *teonanácatl*—os cogumelos sagrados. Foi ali que María ouviu, pela primeira vez, *as vozes*. Elas não vinham deste mundo. Sussurravam em uma língua antiga, mostravam visões de um reino onde os vivos e os mortos se encontravam. E, mais importante, revelaram seu destino: ela seria uma *sabia*, uma mulher que cura com o auxílio dos espíritos.
## **A Arte da Cura e o Poder das Veladas**
María Sabina não “usava” os cogumelos—ela os *servia*. Em seus rituais noturnos, chamados *veladas*, os participantes ingeriam os *niños santos* (como ela os chamava) e entravam em um estado visionário. Ela guiava a cerimônia com cânticos em língua mazateca, invocando forças invisíveis.
Os relatos são impressionantes: pessoas com doenças incuráveis se levantavam curadas após uma noite em sua presença. Outras falavam de encontros com ancestrais, de diálogos com deuses antigos, de visões que revelavam o passado e o futuro. María Sabina afirmava que os cogumelos *”abriam as portas do céu”*, permitindo que ela visse a origem das enfermidades—se fossem físicas, espirituais ou fruto de feitiçaria.
## **A Chegada dos Estrangeiros e a Profanação do Sagrado**
Por séculos, os rituais com cogumelos eram um segredo bem guardado dos mazatecas. Mas em 1955, o banqueiro e micólogo R. Gordon Wasson chegou a Huautla, disposto a experimentar a “magia” dos fungos. Fascinado, ele publicou seu relato na revista *Life*, e logo a pequena vila foi invadida por cientistas, artistas e hippies em busca de alucinações.
Entre eles estavam figuras como John Lennon, Walt Disney e até agentes da CIA (que investigavam o uso de psicodélicos para controle mental). María Sabina, inicialmente receptiva, logo percebeu que os estrangeiros não buscavam cura—eles queriam diversão, experiências baratas, uma “viagem” sem responsabilidade.
*”Antes, os cogumelos me tratavam como uma rainha. Depois, já não me respeitavam”*, lamentou. Aos poucos, sua comunidade a viu com desconfiança, acusando-a de trazer problemas. Sua casa foi incendiada, e ela passou seus últimos anos na miséria, abandonada por muitos que um dia a veneraram.
## **A Morte da Xamã e o Mistério que Permanece**
María Sabina morreu em 1985, mas seu legado é imortal. Alguns dizem que, em noites de lua cheia, seu canto ainda pode ser ouvido nas montanhas. Outros juram que os cogumelos de Huautla perderam parte de seu poder após sua partida.
Hoje, a ciência redescobre o que ela já sabia: substâncias como a psilocibina podem tratar depressão, ansiedade e até abrir portais de percepção. Mas será que o mundo moderno realmente entendeu sua mensagem? María Sabina não era uma “vendedora de drogas”—era uma sacerdotisa, uma intermediária entre o humano e o divino.
## **Reflexão Final: O Preço do Conhecimento Proibido**
A história de María Sabina nos faz questionar: até que ponto o sagrado pode ser compartilhado sem perder sua essência? Será que algumas portas, uma vez abertas, nunca mais podem ser fechadas?
E você, leitor: acredita que existam segredos que devem permanecer ocultos? Ou que todo conhecimento deve ser revelado, não importam as consequências?
Baseado no blog **Entre Mundos**, explorando o inexplicável com respeito e profundidade.